Literatura

Agora os dois estão lá a areinha da praia de Bobulo. O rio bobula as águas e é muito preguiçoso. Quase sempre. Mas no tempo das chuvas ele fica bem nervoso. Hoje, as águas cintilam por causa do tatajubá do sol.quando cai o cambiim do luar nas noite de lua, o rio ondula piscante. E pisca ondulate. Desse jeito.

O Bobulo vem boblando pel’um vale cerrado. Do lado donde o sol levanta, vem uma serra e vem vindo. Vem serrando o horizonte azul. Pros lados donde o sol deita, ali a serra vai caindo e se cotoca numa serrota. Na serra e na serrota a gente vê daqui uns altos retões paredões pelados pedra pura pretejada. Têm cavernas, cafuas, cafurmas. Toquetô já viu. Ali moram morcegos, escorpiões, aranhas. Nas rochas crescem uns tufos de plantinhazinhas pobrinhas verdeadas branquicentas meianêmicas. Nos sopés, toiçam toiceiras espinhudas.

Ali é um fiofó do mundo. Um corumbá perdido ainda não encontrado. Às vezes, muitas vezes, alguém escracha na malomba e tomba na catapa porque o maravilhoso anda misturado nos coisos e nas coisas. É maravilha. Às vezes, muitas vezes, quase sempre, alguém pode malombar. Por causa disso, acontece um escracho e catapa um tombo. É maravilhoso. Tudo isso é muito maravilhoso.

É porang.

Acreditem se quiserem.

Estamos eu, Odisseu, e minha fiel Penélope, em Dublin.

Mais de duo milênios e meio, este o tempo em que Penélope e eu ficamos zaranzando tipo sombras no reino do deus Hades, o Reino dos Mortos. Repente, eis, alguém resolveu nos visibilizar. O cujo visibilizador, chamado James Joyção, era um magricelo, chapéu de feltro escuro cobrindo o coco, parabrisas com lentes circulares fundo de garrafa em frente aos olhos, bigodinho tipo escova dental.

Pensamos a mírioi para fora do lúgubre reino de Hades. Subimos, o trio, no lombo pensado de uma grande brilhante pássara, que James disse chamar-se Imaginação, e, em onduloso e suave voo, alcançamos populosa cidade. James uhuhou:

- Uh uh! Dublin é bem ali, meus amores. A nova polis-lar de vocês.

Imaginação pousou numa rua paralelepitada. Quando nem, estávamos dentro de uma casa tipo sobrado duo andares. Na rua Eccles, 7.

O dia é mais verde

na Chácara das Corujas

o ar é mais leve.

 

Resultado de um mix de fake news, do cultivo de um ódio de classes enrustido e de uma soma de votos desavisados, cá estamos todos nós envolvidos por um desgoverno ultra liberal, que exalta o tiroteio, anula indígenas e castiga nordestinos, e, com o olhar vesgo que nos lembra o anticomunismo de 1964, abraça o imperialismo ianque, vendendo-lhe por ninharias as riquezas e conquistas da ciência e tecnologia tupiniquim do Pré-Sal e esposando a sanha da destruição da Amazônia e do cultivo pesticida do agronegócio.

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Nestes conturbados anos de Brasil pós-Golpe jurídico-legislativo-mediático, que derrubou uma presidente sem mancha, brindou-nos Sérgio Schaefer com a publicação, em 2017, de OS RATOS, em que Temer e sua Corte, em nossa bela e corrupta capital, são expostos a seus versos, satíricos uns, atrevidos outros, certeiros todos em denunciar as mazelas e contradições da vida política do Brasil.

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São nos períodos mais turvos da história que a arte mostra todo seu vigor, importância e resiliência. Ao narrar a trajetória de um cidadão preso, torturado e humilhado por supostamente escrever cartas ofendendo o presidente, Sérgio Schaefer nos faz lembrar o quão perto estamos, no presente momento pelo qual passa o país, de um Estado e de um Judiciário com poderes absolutos sobre o cidadão.

Não espere o leitor, porém, um texto panfletário, repleto de discursos e acusações. É pela ironia, pela malemolência da linguagem, pela quase naturalidade com que as cenas são construídas que se faz a alegoria. Afinal, a história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa.

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A chegada dos primeiros navegadores portugueses ao litoral da Bahia, como descrita na Carta do Descobrimento do Brasil, de Pero Vaz de Caminha, é uma longa história, literalmente. Já deu muito pano para manga, e nem se sabe direito o que foi efetivamente coberto ou descoberto (por esses panos retóricos ou linguísticos) e, afinal de contas, quem descobriu quem, e o que. É numa afirmação Mino Carta que Sérgio se inspira para sair a navegar por águas nunca dantes navegadas, as que conformam uma carta paralela à original de Caminha (o que, simbolicamente, “caminhou” em forma de palavras por sobre as águas entre dois continentes). “As histórias nunca contam as verdadeiras estórias”. Eis por que, de certo modo, sempre desconfiamos das verdades da própria história, e somos muito mais propensos a acreditar, e a apostar nossas fichas, nas verdades das “estórias”. Se a Carta de Caminha pretendeu ser História, a Carta de Schaefer faz questão de se dizer e se revelar “estória”, e assim estará livre para ver, ouvir, cheirar, apalpar, saborear, ouvir tudo o que os primeiros portugueses, contidos ou fechados em seus sentidos, não captaram. Quando a Carta de Schaefer faz que não vê ou não ouve, o leitor, sortudo, vê, ouve, sente. E descobre. Oh se descobre.

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Gumercindo Nunes precisa cumprir uma promessa feita ao Patrão do Universo: visitar o túmulo da santa prostituta Maria do Carmo, em São Borja. Mas o Mouro justiceiro tenta, de vários modos, impedir que o velho pampeano a cumpra. Caso o justiceiro consiga impedir, Gumercindo Nunes será preso e encafuado na penitenciária de Tibacuri.

Gumercindo Nunes e o Mouro é uma estória que tem como cenário os pampas gaúchos. Passa pela Cova do Jarau, dá em Bossoroca, alcança as ruínas de São Miguel, atravessa o povoado das Três Cruzes, toma um baita susto na Lagoa do Medo e, finalmente, entra em São Borja, lugar do cumprimento da promessa.

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O artista quando velho

Autor - Sérgio Schaefer
Editora – Instituto Estadual do Livro (IEL/RS)
Porto Alegre, 2014 - 86 p.

Sérgio Schaefer, consagrado com o romançãoRosas do Brasil, uma ficção de fôlego imersa na intertextualidade na qual ecoa a voz de João Guimarães Rosa, tem em Rosa sua referência literária maior. Schaefer assume, com indisfarçável e imenso prazer, o papel de epígono, e em sua literatura, assim como nesse volume de doze contos, O artista quando velho, as narrativas, embora diversas, estão tomadas de uma similitude: a arte da palavra – e quanto mais radical, melhor. O escritor gaúcho praticamente atravessa sua ficção com uma linguagem na qual o protagonista é ela mesma, a linguagem.

[Paulo Bentancur – da apresentação do livro]

 

SUMÁRIO
O artista quando velho
Na rua, no meio do maelstrom
A menina de cá
Subversão
Enquanto na terceira margem
A indomada
Clepto
Jasmim e o desmiolado
O esquizocídio de Petra
Bela Esther
Homoamores
Espelho meu

 

O Rio de Heráclito
Porto Alegre: Editora Revolução Cultural, 2008.

“Em rio não se pode entrar duas vezes no mesmo”, disse Heráclito. Esse é o mote que embala as páginas da novela O RIO DE HERÁCLITO de Sérgio Schaefer, livro que acaba de ser lançado pela Editora Revolução Cultural.

O filho de um fazendeiro desiste da vida campeira, arrebanha um diploma de filosofia e torna-se professor desse saber que teve seu desenrolar grego a partir dos pré-socráticos. Apenas formado, casa com uma professorinha de matemática de nome Sofia. É então que a vida dos dois começa a balançar ao ritmo da dialética do rio de Heráclito.

Segundo o sábio Heráclito, as mudanças parecem ser o fluir impetuoso, ondulante e interminável de um rio. As águas que correm podem desparadigmatizar qualquer coisa. Inclusive, casamentos.

De fato, Heráclito está bem satisfeito: aquele casamento acaba e o professor de filosofia encaminha sua vida para uma síntese, que tem o nome Filomena, uma colega do departamento de psicologia da universidade.

Nosso mundo sublunar é feito de constantes mudanças. Per omnia saecula saeculorum et sacco saccorum.

Rosas do Brasil
2ª edição: Porto Alegre: Instituto Estadual do Livro/EDUNISC, 2006.
1ª edição: Porto Alegre: Instituto Estadual do Livro/Igel, 1985.

 

É um livro construído sobre a obra de João Guimarães Rosa -- espécie de paráfrase romanceada. Os personagens básicos são o professor Rodovaldo, a prostituta Amélia, o cego Borromeu e o menino negro Guirigó. O professor Rodovaldo, professor de literatura brasileira numa cidade do interior e grande admirador de Rosa, coloca na cabeça a doida idéia de que precisa encontrar o Rosamundo, isto é, o mundo de Guimarães Rosa, aquele criado por este autor em seus contos, novelas e, principalmente, no romance épico Grande Sertão: Veredas. A partir disso, a ação ficcional começa a se desenrolar em meio a muitas aventuras e percalços. Poder-se-ia classificar este romance, talvez, como sendo uma experiência de metaliteratura.



Sombras
Porto Alegre: Instituto Estadual do Livro, 2005.

 

É um livro de contos, todos ambientados no Rio Grande do Sul, em estâncias, em postos de estâncias, em povoados perdidos no interior da campanha e outros ambientes ligados ao pampa. Foi publicado pelo Instituto Estadual do Livro na Coleção 2000

* Francisca manquinha - Estância Mborerê. Francisca, a menina manca, conversa todos os dias com a falecida tia Vana.

* Vaca afetosa - Uma vaca malhada volta para sua querência amada, a estância da Figueira.

* Louca mansa do Guamirim - A louca mansa Maria Aparecida durante uma noite tempestuosa.

* Bonecra - O Demo esconde a boneca que o pai - um posteiro - trouxera de presente para a filha Nina. O pai enfia um pau de aroeira no fiofó do Diabo para que este devolva a boneca, o que de fato acontece.

* Menino - O filho do posteiro Juvêncio tinha estranhos poderes.

* Satanasa - Um peão desempregado negocia sua alma com a Satanasa.

* Irena e o estranho - A moça Irena e o estranho que apareceu no povoado das Três
Cruzes.

* Joana e o pica-pau - Joana, a moça fraca da cabeça, se enamora pelo moço que será degolado.

* Buraco do Jarau - O velho Nunes sonha que entra na Cova do Jarau. Tudo é diferente: a lagartixa Teiniaguá é, agora, a centopéia Arabela e, para chegar até esta, bastam apenas quatro provas de coragem. (Paródia sobre o conto A salamanca do Jarau de Simões Lopes Neto).

* Endemoniada Mocinha - Mocinha Fausta é incubada pelo Diabo para fazer maldades. Morre afogada no lodo do manantial onde morreu Maria Altina (Transconto do conto No manantial de Simões Lopes Neto).

* Lobo-guará - O pároco do pueblo de San Miguel, padre Lorenzo Balda, sofre o castigo da lobisomação, transformando-se a cada sexta-feira de luna plena em lobo-guará. Num dia em que se acha bastante mal, consegue repassar o fado para o famoso defensor dos índios reduzidos, Sepé Tiaraju.



O Gaudério Macunaíma e a Pititinga Macia de Brunilde
Porto Alegre: Mercado Aberto/Edunisc, 2001.

 

O livro conta a história de Macunaíma, que, tendo sido exilado nos céus para ali tornar-se uma constelação e cansado da monotonia do exílio, resolve voltar ao Brasil. Para tanto, convoca a aranha tatamanha, que lhe fabrica uma gigantesca teia, na qual passa a viajar, aterrissando no jardim da casa do gerente de uma multinacional de fumo, Herr Wolfgang, numa cidade do interior do Rio Grande do Sul. Ali conhece sua filha, Brunilde, com quem casa. O sogro arranja as coisas para que ele se torne candidato a prefeito do município. Acontece, então, uma série de trapalhadas, típicas dessas campanhas eleitorais. O candidato opositor, Schwarzneger, ganha as eleições. Macunaíma, muito desiludido com a política, vai passar uma temporada na ilha de Cuba, onde se apaixona por Caridad, que o incumbe da missão de instalar um foco guerrilheiro no Brasil. Ele volta e cumpre o desejo dela, constituindo um hilariante grupo, que, por não ter arma alguma, acaba inventando a luta desarmada. O único ato do movimento guerrilheiro será o seqüestro do prefeito Schwarzneger, recém eleito. O grupo é desfeito pelas forças de repressão e o prefeito termina libertado. Macunaíma, Brunilde, Siegfrid Poronô – o filho deles – e os demais companheiros fogem da cidade, indo para a região do Uraricoera, no Amazonas, onde, num clima mágico, compartilham os momentos finais de sua história. Neste livro, o autor continua o projeto metaliterário de revisitar grandes obras e autores da literatura. Agora, é o Macunaíma, de Mário de Andrade, que é revisitado.



Zé Divino, o Messias
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1976.

 

Este romance tem como ambiente a região garimpeira do norte do Mato Grosso. O personagem principal, Zé Divino, age como uma espécie de messias cuja tarefa fosse a de reformar o que está errado. As ações dele, ao longo do livro, são muitas, rápidas e sempre eficientes. Cura doentes, resolve problemas afetivos, briga com os políticos do lugar. Ao final, é assassinado por capangas. Mais ou menos como foi o caso de Jesus Cristo.

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